Nova York, 1979...
Em outubro, o grupo ‘The Sugarhill Gang’, lança o clássico ‘Rapper’s Delight’, considerado o primeiro vinil (single) na história do rap. Todo este trabalho apenas foi possível graças à pessoa de ‘Sylvia Robson’, empresária do grupo e do selo ‘Sugarhill Records’. Sylvia também é considerada a primeira mulher a empresariar um grupo de rap e um selo musical na história do hip-hop. Enquanto isso, ‘Lady B’, natural da Filadélfia, torna-se conhecida com seu primeiro single, ‘To the Beat Y’all’. Responsável por fundar a ‘WHAT 1340 AM’, estabelecendo oficialmente o hip-hop na Filadélfia, através das ondas da rádio, B foi uma das primeiras mulheres do rap a assinar contrato com uma gravadora – no seu caso com a ‘TEC Records’, e, algum tempo depois passou a fazer parte dos investimentos da ‘Sugarhill Records’, chegando a participar de uma série de compilações da gravadora. Impetuosa, Lady B deu voz a artistas importantes como ‘Public Enemy, Poor Righteous Teachers, King Sun, Jazzy Jeff & Fresh Prince, MC Breeze, Schoolly D, 3X Dope, Cash Money’, entre outros, no início de suas carreiras, sendo creditada como a personalidade de rádio mais influente da história do hip-hop por tais ações. A História da Mulher no Hip-hop começa aqui...
Rio de Janeiro, 1992...
No Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), jovens oriundos de várias localidades do estado, se reúnem para aprender uma atividade não tão previsível aos meninos de sua faixa etária: a politização! Movidos pelo sentimento gerado através do hip-hop, grupos como ‘Consciência Urbana (aonde o rapper e ator Big Richard – Turma do Gueto – era líder), NAT, Poesia Sobre Ruínas, RRR, Filhos do Gueto, Gabriel O Pensador e Geração Futuro (cujo MV Bill era líder)’, compunham o quadro de associados da ‘ATCON’ (Associação Atitude Consciente), entidade responsável por revelar os primeiros representantes do movimento carioca.
Em meio ao ambiente de caras sisudas com cavanhaques, uma adolescente de cabelos trançados, de nome ‘Quênia’, adentra as dependências do CEAP impulsionada pela proposta libertária do hip-hop. Certamente, a menina não imaginava que, por motivos particulares, o presidente da ATCON, ‘Big Richard’, estaria de malas prontas para São Paulo, e que a pessoa de maior capacidade para assumir seu lugar seria ela. Meses depois, ‘Paula DIVA’ e o grupo ‘Damas do Rap’ passam a reforçar o quadro feminino da Associação e da própria cultura carioca que ali se estabelecia. A História do Rap de Saia Carioca começa aqui...
A Fúria Feminina ressuscita outra vez...
Dirigido pelas rapperes ‘Re. Fem. e Queen’, o documentário ‘Rap de Saia’, com 18 min de duração, procura dar visibilidade à participação velada das mulheres no hip-hop carioca, visando alcançar não apenas o entendimento dos hip-hoppers, mas também atrair toda a sociedade para uma discussão ainda travada concernente a ‘Direitos Iguais’, isto sem depreciar a condição masculina, pois o objetivo é integrar ambos os sexos em prol de uma sociedade mais saudável para todos. E para que tais objetivos fossem alcançados, o documentário correu as salas dos festivais de cinema do estado durante todo o ano de 2005, com formato, e título (Rap de Saia) provisórios...
Traçando uma linha de temporal, o documentário uniu as veteranas ‘Paula Diva, Damas do Rap, Michelle Ivana (Olho Negro), Dhéia (Nocaute)’, à geração atual representada pelas pessoas de ‘Re. Fem, Lu Rap, Mary, JC (Fúria Brasileira), Lisa (Ultimato à Salvação), Nany (Geração Consciente), Vitória (VB), Queen (Oeste Selvagem), Negresoul, Combatentte, Afro Lady e Kamilla (Odoiá), Hannah Lima, Luana Delstaly (Anfetaminas), Jamille e Mary Juana(Negaativas), Mácia 2 Pac, Negra Rô, Afro Dhy (N.R.C), Joy-C e Maninha’. Juntas, além de relembrarem suas histórias, discutem também assuntos de extrema relevância: ‘As Rivalidades; O Machismo e o Feminismo; A Postura da Mulher no Hip-hop; A Sexualidade no Hip-hop e A Relação Familiar’ são os pontos chaves onde cada personagem expõe seu ponto de vista de acordo com sua própria realidade. E para que esta obra fosse concluída fielmente, foram mapiadas todas as regiões do estado, na busca da Pedra de Roseta que desvendasse a presença feminina no hip-hop do Rio de Janeiro. Ao todo, entre as atuais e veteranas, 20 grupos, incluindo artistas solos foram localizadas; contudo já se sabe da existência de outros nomes. Sendo assim, cabe ressaltar, que, nitidamente serão notadas as ausências de nomes considerados essenciais na formação do rap feminino de ontem e hoje no Rio. Todavia, respeitando a decisão própria das localizadas e justificando o insucesso da procura de outras, o documentário dobrou a sua responsabilidade no sentido de retratar, através daquelas que se propuseram a participar, a autêntica história do movimento feminino carioca.
É... Aqui é Rap de Saia!
DJ TR
(Pesquisador-escritor e colunista).
Contatos:
rapdesaia@yahoo.com.br
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